Nos últimos dias, uma notícia acendeu um alerta importante para quem atua no setor da saúde suplementar: cursos promovidos por escritórios de advocacia estão ensinando, abertamente, “estratégias para acionar judicialmente operadoras de planos de saúde”, com aulas voltadas inclusive à captação de clientes via Instagram e TikTok.
Não posso deixar de reforçar: isso não é defesa do consumidor, é mercantilização da dor alheia.
A judicialização da saúde, quando feita com responsabilidade, é um instrumento legítimo. Mas o que temos visto crescer é uma judicialização predatória, orientada mais por interesses econômicos do que pela proteção real dos pacientes.
Segundo a ANS, os custos judiciais para as operadoras somaram R$6,8 bilhões em 2024, um salto de 183% desde 2019. E mesmo representando apenas 1,6% das queixas no portal consumidor.gov.br, o setor da saúde suplementar é hoje um dos mais judicializados do país.
A pergunta que precisamos fazer é: quem realmente se beneficia com esse modelo?
Certamente não é o paciente que, ao invés de contar com um sistema regulado e previsível, depende de decisões judiciais individuais que fragilizam a sustentabilidade de toda a cadeia.
É hora de dar um basta no uso distorcido do Direito da Saúde como ferramenta de captação de clientes. O que está em jogo é a viabilidade de um sistema que atende mais da metade da população brasileira com agilidade, inovação e prevenção.